terça-feira, 30 de outubro de 2018

Faz sentido

Fico cada vez mais receoso sobre o que poderei ou não falar daqui pra frente. De repente, dizer "Faz sentido" pode ser motivo pra ser chamado de defensor da volta dos militares...

domingo, 28 de outubro de 2018

De indiferente a pessimista

Política é uma ideia legal. Surgida na Grécia antiga, a palavra significa mais ou menos "em prol da cidade". E parece que era mesmo, populares voluntariamente sentados nas escadarias da ágora ("local de reunião"), alguns intelectuais levantando os problemas da cidade, todo mundo votando ali, abertamente, decidindo o que fazer. Sem burocracia e sem siglas.
Mas política PARTIDÁRIA é invenção do diabo. Pra usar um termo da moda, um fake. É um jeito de colocar sujeitos que a população elege como super-heróis, que quase sempre são despreparados e cujos interesses dificilmente correspondem a nossas expectativas, em cargos que deveriam ser tratados como importantes mas não o são. Para desviar a atenção do foco que a verdadeira política tem, com ajuda da Deusa Mídia (que não é grega). Acha exagero? Então responda, você que é antipetista ou antibolsonárico ou nenhum dos dois: conhece os programas dos candidatos? Conhece alguém que conheça? Já viu nas conversas de rua alguém discutindo as eleições nesses termos? Se sua resposta a uma delas foi "sim", então você corresponde aos 0,000000001% de exceções. Eu, assumidamente, não conheço os programas. E não vejo nas ruas ou nas redes sociais quem conheça. Ou se conhece, não está falando sobre. Sucesso! Todo mundo desviado do foco.
Falei isso tudo pra contextualizar o ponto em que quero chegar, tô quase lá: não acredito mais, e faz tempo, nesse formato de política feita com partidos. (Abre parêntesis: Se tenho ideia de alternativa? Sim. Mas o objetivo deste texto não é esse. Deixemos pra um café, qualquer hora. Fecha parêntesis.) Essa descrença é transferida desde 2004 para meus votos, que têm sido sistematicamente nulos. Votos de quem entende que tanto faz pra que andar o elevador leva, porque já construíram errado o prédio. Ponto, foi isso que fiz e não se volta atrás. Neste ano, continuo não me sentindo pertencente a lado algum, mas a intuição é um pouco diferente, e aqui chego enfim aonde queria: parece que o Brasil quer limpar com merda aquela mancha de molho na camisa. Macedo ou matarde, saberemos.

sábado, 20 de outubro de 2018

A cultura do Antismo

Tudo bem, todos temos direito a ser pró isso e contra aquilo. Mas é curiosa a cultura desse antismo superficial e, por isso mesmo, quase sempre inaproveitável como conteúdo sobre o qual se possa refletir e tirar algum proveito. Este tempo de eleição tem sido um bom momento pra mostrar o que falo. O antipetismo poderia ser antiPSDBismo, antiPMDBismo, antiPQParismo, não importa. Os componentes do antista político médio são mais ou menos os mesmos:
- Ele é anti-qualquer coisa sem ser pró-alguma coisa. Pergunte a ele se está filiado a outro partido, ou ao menos se defende as ideias de algum. Ou seja, condenemos, mas não apresentemos soluções...
- Acredita que corrupção e roubo são exclusividade de um partido como se, sem conivência/ cumplicidade/ coparticipação dos demais, isso fosse acontecer. Deve acreditar também em Papai Noel, Saci Pererê e vampiros (não vale mencionar Michel Temer).
- Pensa que corrupção, roubo e crimes políticos começaram só depois que ele tirou título de eleitor. Assis Chateaubriand, entre outros, agradece.
- Ele acha que no governo X houve mais corrupção do que no Y. Talvez tenha estado lá pra ver (eu não estava). Confia cegamente na isenção de toda a mídia jornalística. Acha que, antes da internet, a informação corria assim tão escancarada. Não pensa sobre o que aconteceria com seu pesçoco (ou ânus) se abrisse a boca pra denunciar um militar nos tempos de ditadura. E crê que é mais importante medir os números da corrupção do que a questão moral desse ato.
Antis nunca do que tarde.

quinta-feira, 18 de outubro de 2018

Darwin às avessas nas redes sociais: teoria da involução da espécie

Sou um privilegiado no aspecto de que durante toda a vida estive próximo e induzido à reflexão e à crítica - nem sempre nessa ordem, mas preferencialmente. É parte desse processo analisar fenômenos sociais e suas consequências, seja como leigo ou a partir da ótica um pouco mais elaborada da profissão que exerço. Estou certo de que existe uma unanimidade comum aos fenômenos sociais: eles nunca são unanimidades. Há quem apoie e há quem condene a ditadura militar ou os governos defensores da privatização dos anos 1990 ou os governos deste século que se posicionam como mais populares, a mudança de paradigma nas artes e na música, o Acordo Ortográfico e a invasão de termos estrangeiros na língua do dia a dia, o futebol de resultados e não mais de espetáculo, o Big Brother e o Big Bang. Claro que também tenho minha opinião sobre eles, inclusive a opinião de que não preciso ter opinião sobre tudo - ou porque não vai fazer diferença, ou porque o assunto não me interessa mesmo, e seguimos com a vida.
Porém, tem me incomodado de uns tempos pra cá, pela dimensão que tomou, essa coisa da polarização/discurso de ódio que, iniciada há uns anos com o escudo que a internet oferece às pessoas para se manifestarem sem piedade nem respeito ou reverência, está saindo das redes sociais e vindo à vida real. Penso nisso e fico um tanto preocupado, estarrecido, quase depressivo. Pra ilustrar com fatos recentes (estou falando em outubro de 2018), o show de Roger Waters em São Paulo e a discussão em torno do segundo turno das eleições presidenciais demonstram pra mim que o foco, em muitos campos, começa a deixar de ser o evento ou fato ou fenômeno em si, e passa a ser o "inimigo que pensa diferente e precisa ser destruído". E falar dessa forma já não é figura de linguagem, não é metáfora que poderia ser substituída por "um outro ser humano que eu quero tentar convencer" ou coisa que o valha. A música de Mr. Waters, sabidamente um crítico de certos setores da sociedade desde a época do disco THE WALL, do Pink Floyd (1980), perde o protagonismo do evento porque a posição dele em relação ao momento eleitoreiro do Brasil é mencionada no telão, e a coisa se torna uma disputa de # ELESIM versus # ELENÃO. Felizmente, esse episódio não trouxe maiores consequências. Mas as mortes da vereadora carioca no primeiro semestre e do capoeirista na Bahia são exemplos fortes de que a coisa está de modo alarmante deixando de ser apenas retórica.
A internet ajuda bastante quem tem vocação pra humildade. Mas para a maioria, o efeito dela parece estar sendo este: diplomadora em massa de fanáticos, de donos de pseudoverdades rasas, de odiadores de qualquer coisa que, agora, estão perdendo o medo de levar seu pensamento a perigosas vias de fato. A imbecilidade formalizada.
Darwin, se estivesse por aqui, provavelmente iria rever para onde aponta o vetor de seus famosos conceitos.