quinta-feira, 11 de julho de 2019

Carta de um português a um ladrão

Prezado, antes que tu percas teu tempo entrando em minha casa, vão umas informações pertinentes.
Joias: chegaste tarde. Muito tarde. Antes que tu nasceste, a concorrência invadiu aqui e levou todas. A dona da casa nunca mais quis saber de outras.
TV: a nossa (é no singular mesmo) deve ser menor do que a tua. 4b em vez de 4K, 40 cm em vez de 40 polegadas. Com perdão do trocadilho, eu nem ligo...
Carro: considerando o tamanho e a idade, é equivalente a um Poodle quase cego e sem faro. Eu não gosto de dirigir, uso pouco, e talvez por isso ele tá dando mais trabalho do que até tu suportarias.
Outros veículos: quando eu era criança (iiihhhh!....), tive CNH categoria “bicicletas”. Faz tempo que não renovo.
Bichos: tu vais achar um huomo tentando ser sapiens e uma donna que vai deixar toda a tua grana em farmácias. Ambos alérgicos a pêlos.
Computador: o monitor tá mais pra Oliver Hardy do que pra Stan Laurel, se é que me entendes...
Celulares: os mais baratos que encontramos pra comprar. Em 2013.
Roupas: a maioria adquirida no Mercado Livre. Mas temos umas de grã-fino, claro. São uma pechincha no brechó daquela conhecida que traz coisas de Miami.
Apetrechos de copa e cozinha: achamo-nos velhos demais pra cozinhar. A aposentadoria felizmente permite que a gente almoce fora no “Deiz real com um pedaço de carne” e compre sopas congeladas. Então já foi praticamente tudo doado; alguns como presente de casamento, porque ainda estavam na caixa.
O que temos bastante são obras de arte, todas pinturas com tinta acrílica feitas pela dona da casa antes do Parkinson. Tentamos doar para um museu, mas não aceitaram. Quem sabe não ficam bem em tua galeria?
Abraço.

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