quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Blefeing

Sustentáculo sólido da durabilidade. Fio norteador para o sucesso. Essência da interação cliente-fornecedor. Matéria-prima para grandes campanhas.
O briefing (olha aí o inglês tomando conta da gente de novo) bem pode ser definido com essa pompa. Ele é a primeira etapa da relação entre a agência de propaganda e o cliente, em que este abre o coração e conta como sua empresa funciona, seus princípios, objetivos, intenções, metas...
O texto poderia acabar aqui, mas eu quero colocar um “supostamente” na frase acima. Porque quase sempre o briefing parece ser um jogo de blefes, um blefeing. O cliente finge que conta tudo (“quem é esse pessoal de agência pra achar que vou revelar meus segredos?”) e a agência finge que ficou tudo bem (“se insistirmos, nos queimamos”). Desnecessário mencionar a continuidade disso, né não?
Esse comportamento pode ser visto em outros contextos. Consultores de empresa, assessores de imprensa ou especialistas em RH vão se identificar de imediato. Médicos e profissionais de saúde recordam facilmente inúmeros casos de pacientes dessa ordem. Quem é da área de Exatas sabe que as coisas não são assim tãããão exatas. Até dentro de casa se vê isso ─ ria pra não chorar, você que é psicólogo. Famílias, namoros e casamentos, relacionamentos de toda ordem...

Talvez seja por isso que não gosto de jogo de truco.

sábado, 15 de agosto de 2015

Establishment

Aos puristas, peço desculpas pelo título em inglês, mas não encontrei expressão em nossa língua que substitua a palavra neste contexto. Tampouco algum texto na internet que fale do “estabelecimento”, a não ser que se refira a alguma loja...
Instituições como a política e a religião foram "inventadas" em algum momento da história e, desde então, expressas em diversas formas e cores e tamanhos. Discutidas, debatidas, estruturadas e desfeitas, guerreadas. Mas um fato chama a minha atenção: o tamanho de seu poder, pois tão entranhadas estão na cultura da humanidade que ninguém questiona a validade de sua pura e simples existência. Será que precisamos mesmo delas?
Embora tenham por princípio semear palavras como tranquilidade, honestidade, igualdade, solidariedade, fraternidade e outras “dades”, historicamente são as maiores causadoras de fundamentalismo, sectarismo, belicismo e outros “ismos”. 
Jamais se chegou a um consenso sobre o modelo político ideal ou a crença “verdadeira”. Ninguém questiona a existência do sol, mas estamos cercados por inúmeros possíveis deuses e discursos com modelos mágicos de crescimento econômico. E no fim das contas, sempre vejo beneficiada uma meia dúzia de pessoas por cujo caráter não ponho a mão no fogo.
Os outros seres vivos, “irracionais”(!), vivem mais bem organizados e em harmonia do que nós. E sem política ou religião... Ou alguém aí sabe de um formigueiro com câmara dos deputados e templo de oração?

PS: Opa! Agora já são dois textos para o livro “Reflexões de um quase cinquentão”.